01 junho 2012

Capítulo 126 - Her letter;



"Pequena,
tô te pedindo para - uma última vez - ler minhas súplicas de amor. Sei que amor não se pede, mas são súplicas por estarem aos teus pés, não por demandarem qualquer coisa.
Abre a janela do teu quarto ou sai na varanda (tô torcendo para estar um céu estrelado - tanto quando o que eu tô vendo agora - aí). Olha bem para esse céu e se concentra nele. Fecha os olhos e respira fundo. Sente a brisa do vento no teu rosto e não pensa mais em qualquer coisa. Tá vendo aquela estrela brilhar (e piscar pra ti)? Ela tá morta. Ela não existe mais. A luz que você tá vendo agora é o que sobrou do que ela já foi, é o reflexo dela caminhando espaço a fora. Toda essa luz é resultado do conflito que ela já foi. Vai lá saber porque ela se acabou. Ninguém vai dizer que era por ser pouco reluzente, por ser velha demais, ou inútil. Talvez ela tenha tido um conflito interno qualquer, uma crise de meia idade ou sei lá. Ela pode até ter tido uma confusão com alguém que ama - assim como eu.
Assim como aquela estrela, em algum lugar do caminho eu morri (pode ter a certeza de que foi após a explosão). E tão parecida com ela, a luz que continua a emitir universo a fora se assemelha a meu amor por ti, que nunca deixei de declarar.
Eu - mesmo morto - nunca deixei de te amar.
E você sabe que se alguma coisa de tamanha dimensão assim pode acontecer, talvez eu ainda possa ter você, não é?
Como uma coisa morta continua a demonstrar sua beleza universo a fora e isso não é considerado um milagre?
Essa é a última carta, pequena. Nunca mais precisa olhar para esta estrela morta aqui se não quiser, mas eu precisava fazer com que minha luz te alcançasse.
Será que isso é um adeus?"

26 maio 2012

Capítulo 125 - O avesso do avesso do avesso do avesso


Era uma menina engraçada, porém não engraçada de uma forma divertida, ela era de um engraçado nostálgico. Ela era uma pessoa triste, era fato, e ela se achava a pessoa mais triste que conhecia  - e ela conhecia várias delas (gostava de gente triste assim, era mais fácil de conviver e menos a se explicar) - e talvez, ela fosse. Pensava em sua existência como algo um tanto infeliz, porém ela não sabia como mudar isso. Ela não gostava de médicos, psiquiatras, psicólogos: ela sabia e entendia que a única pessoa que poderia fazer com que ela mudasse era ela mesma.
Ela não conseguia ver a graça de coisas normais, logo não gostava de bailes, multidões, músicas agitadas, pouca roupa e parques de diversão. Vivia, de certa forma, reclusa em casa - e saía para estudar, coisa que gostava de fazer. Ler, também, era um dos grandes prazeres dela. Ela via uma beleza diferente na madrugada e gostava de ficar escrevendo até mais tarde (escritos para não-sei-quem, que nem ela mesma sabia quem era, já que) era uma escritora frustrada e não tinha leitores. Se interessava pelo frio e como ele a fazia sentir. Ela queria sempre saber como as coisas funcionavam e tinha uma curiosidade extrema sobre tudo. Ela se sentia excluída e deixada de lado, vendo em si um grande vulto quando olhava no espelho.
("Quem era aquela mesmo? Quem fui ou quem sou?", mas ela não conseguia responder). Ansiava por alguém que conseguisse compreender suas tramas (e dramas) mais indecifráveis. Sofria com a angústia de se sentir tão diferente e não ser aceita. Pensava no mundo como um grande e infinito mar - e as estrelas eram os grãos de areia no fundo do mar (logo, nós estaríamos olhando para baixo ou estaríamos no meio da grande agitação que uma criança que passara correndo causou); os comentas eram grandes e rápidos peixinhos cintilantes que passavam por nós (nós: um grande coral sendo depredado por seus próprios peixes-palhaço). Ela conseguia ver a belezana tristeza e na nostalgia, era como ela sabia viver e com o que sabia/conseguia lidar.
Ela não era de muitos amigos, afinal, não eram todos que conseguiam suportar seus constantes descontentamentos (que não eram assim tão contentes). Procurava nas pessoas algo que a conectasse: algo que dissesse "Estou aqui para você", porém ela não parecia ter resultados positivos em sua busca. Ela sofria com a ausência constante de algo que ela não sabia o que era (e talvez não viesse a saber tão cedo). Ela queria se fazer entender, porém parecia estrangeira num lugar que não era familiar a ela.

13 maio 2012

Capítulo 124


Pior do que sofrer com a dor (consciente ou não) de matar alguém é o eterno purgatório em que se vive enquanto a alma da pessoa ainda te assombra.
Todos os "se"s, "mas"s, pedidos de perdão e desculpa. Sussurros, choros e lamentos que vêm no pacote junto com o peso total do corpo (daquele que já foi alguém amado).
Suportar a presença onipresente de alguém que você já não consegue encarar. A voz que insiste em lhe lembrar: "Ainda estou aqui. Você não me esqueceu.". O espaço de uma mala maior do que você esperava carregar. O desconforto de um sapato números maiores que o que você calça. O incômodo causado por uma alergia cutânea. A agonia da paranoia de enxergar algo que ninguém mais vê.
E num instante, deixar que a faca deslize lentamente por entre os seus dedos, chegando ao chão e causando um barulho agudo. Fechar os olhos enquanto respira fundo e dar meia volta, deixando que você (e talvez a pessoa) viva num passageiro inferno - ao menos você pode fazer o que quiser: já está no inferno mesmo.

06 maio 2012

Capítulo 123


Eu não estava realmente acordada, nem realmente dormindo e às vezes confundia sonho com realidade. Os dois tinham a mesma validade para mim. Minha cabeça doía - assim como todo meu corpo -, mas era um tipo diferente de dor. Meu corpo formigava e eu me sentia aérea e aleatória a tudo que acontecia ao meu redor. Os dias passavam num flash e não consigo me decidir por onde definir a divisão dos dias. A hora de dormir se emendava com a hora de acordar e todo o resto não faz sentido: me decido, afinal. O "tic tac" do relógio me incomodava por ser tão alto num momento tão silencioso como a madrugada. Afinal, esse "tic tac" não é nada mais que uma contagem regressiva: eu só não sei para quê. Me sentia dispersa e aleatória logo que nada que faço tem mais importância que mais um dos grãos de areia da praia. "O que vou fazer da vida?", me pergunto enquanto a vida me enrola como num carretel - ou num carrossel.
E permaneço aleatória, num mar de opções, submersa em todas essas escolhas sendo que sou uma criatura terrena.

24 abril 2012

Capítulo 122 - Isto não é uma carta de amor


"Oi.
Nós mal nos conhecemos - na verdade, nós nunca nos falamos -, mas eu queria dizer que... não! Espera, eu não gosto de você. Gostar envolve um tipo diferente de relacionamento do que o nosso (quis dizer: o relacionamento imaginário, utópico e platônico que eu tenho.). É que eu acho você fofo.
Não sei... na verdade, sei sim: vi alguma coisa em você - você é diferente (diferente bom, eu lhe asseguro). Alguma coisa em você me chamou a atenção (coisa rara de se acontecer).
Gosto do jeito como seus óculos te dão um ar alternativo, eles te destacam. Acho que em algum ponto você deve se parecer um pouquinho comigo. Me parece que você não sorri muito e tem uma personalidade meio antipática, é isso? Bom, se for, já é algo em comum. E pelo curso que você faz, nós devemos ter interesses alguma coisa parecidos.
Desculpa não lhe elogiar dizendo que é lindo, bonito ou sei lá, mas é que esses conceitos remetem a outro tipo de avaliação e um conhecimento diferente - do que eu tenho atualmente - de você, porém te acho um fofo, já comentei. Quer dizer que você me aparenta alguém bom, uma alma boa, alguma coisa divertida, eu arriscaria dizer.
Sempre quise te dizer um "oi", será que você sabia disso? Mas eu sempre tive vergonha demais. Acho que você já olhou para mim um par de vezes no corredor (mas provavelmente foi por meus amigos fazerem escândalo ou porque eu estava lhe fitando).
Bem, é isso. Você deve ser um cara legal e eu queria te dizer um "oi". Como você tá? Tudo bem?
Tchau e se cuida, viu? Espero poder/conseguir falar contigo em breve.

Atenciosamente, xx."

17 abril 2012

Capítulo 121 - Alice, where are you running to?


Vejo as pesssoas (quase que) correrem por mim enquanto com meus passos apressados (e apertados) me dou conta de que sou uma delas.
Para onde todo mundo está sempre correndo?
Um rapaz com uma coleira vermelha ao pescoço (gravata, eu quis dizer) não espera  e passa ao meu lado correndo na faixa de pedestres enquanto ela está vermelha ainda (da cor da sua coleira.). Quase foi pego pelo carro.
A moça ao meu lado balança o pé e mexe nos cabelos impaciente. (De tanto passar por ali, sei que o intervalo do farol é de quinze segundos e me preocupo por saber que a moça não pode esperar 1/4 de segundo). O sinal abre e a maior parte das pessoas sai correndo. (Pois ao contrário dos touros, o que as faz correr é o verde).
Caminho em direção à plataforma me certificando de que é essa a plataforma correta. Olho para os lados por motivo algum enquanto as pessoas ao meu redor parecem se sentir incomodadas com isso.
O trem chega e quem ainda está dentro do vagão não tem espaço para sair devido à multidão querendo entrar. Espero todos entrarem, enquanto vejo um lugar vazio para "descansar". O "rapaz" ao meu lado - no banco preferencial - se levanta para uma moça sentar.
"Não." eu protesto em tom normal. "Pode sentar aqui." levanto e percorro as próximas nove estações em pé.
O garotinho ao meu lado me olha incomodado enquanto sua mãe reclama para ele se sentar.
Desço do trem, com certa dificuldade enquanto tento manter fôlego subindo as escadas com pressa por causa do horário.
Abro minha bolsa com cuidado enquanto pego meu celular e digito uma mensagem. Respiro fundo enquanto tento me acalmar de uma viagem turbulenta. Digito outra mensagem e paro ao lado do garoto enquanto digo "Desculpa, eu tô atrasada."
Atrasada para que mesmo?
Prendo minharespiração enquanto ele não me responde. E ele não o faz. Só sorri para mim e passa o braço ao redor da minha cintura.
"Tudo bem." ele tira meu ar (ou o que restava dele) só com o olhar.
"Uhum." é tudo o que eu consigo murmurar, muito embora eu saiba que não está tudo bem.
Mais uma vez, respiro fundo e seguro a respiração tentando fazer aquele momento durar para sempre enquanto ele me sorri de lado.
Quando foi que nós perdemos o tempo até mesmo para respirar?


15 abril 2012

Capítulo 120 - Pingos nos is

Pesadelos ruins. Noites sem dormir. Você com outra garota e eu aqui. A lembrança de você que não quer sair. Mil planos mirabolantes para esquecer de ti. O jeito que você me cantava aquela música de dormir. Todas as vezes que com você eu sorri. Tijolos e tijolos para você não me iludir. Leite com canela para a dor sumir. Sussurros ao ver o sol cair. Sonetos para e não me esquecer de que eu não morri. Tulipas que me cheiravam a jasmim. Aquela sua amiga chama Yasmin. Suas palavras de quem nunca iria fugir. Meus trabalhos pintados a nanquim. Seu sorriso de criança para mim. Meu desespero, esquecendo que você não era um passarinho na gaiola que iria fugir. Argamassa e concreto para o muro não ruir. Sua camisa que eu mais gostava era de uma loja chamada Miss. Seu sorvete favorito era de anis. Sua tia favorita que me chamava de Cris. Tanta confiança, para no final, você me trair.

23 janeiro 2012

Capítulo 119


“Meu amor.” ele disse enquanto passava a mão pelos braços dela.
“Hm.” ela murmurou ainda sonolenta se arrumando na cama.
“Eu só queria saber se você ainda estava acordada.” mexeu no cabelo dela.
“Certeza, amor?” ela abriu os olhos devagar olhando para ele.
“Uhum. Volta a dormir. Eu amo você.” fez carinho na bochecha dela enquanto a observava fechar os olhos.
“Eu amo você bem mais.” ela encostou a mão no peito dele sentindo a sua respiração.
“Dorme bem, meu amor.” ele encostou a boca devagar no rosto dela, tentando não acordá-la novamente.
E ficou a observando dormir o resto da noite, perguntando a si mesmo se existia paisagem mais bonita que aquela.

12 janeiro 2012

Capítulo 118 - The nightmare before Christmas



“Tô te esperando no café, amor.” leio a mensagem no visor do celular assim que passo pela porta.
Uns vinte minutos até chegar à estação. Lá, passo o cartão magnético na catraca verificando quantas passagens ainda tenho até ter que recarregar novamente.
“Que engraçado o vagão quase vazio a essa hora.” penso enquanto me acomodo num assento próximo à janela.
“Você ainda vai demorar?” leio a mensagem vendo as cores do céu se misturarem como na paleta de uma grande pintor.
“Quinze, vinte muitos talvez, amor. Por quê?” respondo reparando que a garota à minha frente está usando um vestido lindo, que combina muito bem com seus olhos verdes.
“Por nada.” leio e seguro o celular com força em minha mão enquanto observo a primeira estrela aparecer no céu.
Espero mais três, quatro estações reparando no quão apressadas as pessoas nessa cidade são. E vi uma garotinha ruiva - já comentei que gostaria de ser ruiva?
Caminho sem pressa até a entrada do café estranhando não ter recebido mais nenhuma mensagem. 
Respiro pensando no quanto devo ser paranoica e empurro a porta de vidro à minha frente. Vasculho com rapidez o ambiente numa análise de onde você pode estar.
E numa mesa próxima ao bar está você. Mas antes de dar meu primeiro passo vejo que você está acompanhado de uma garota. (E por acaso, ela é ruiva.) Me decido mentalmente entre ir embora e ir tomar satisfações com você e me decido pela segunda opção. Caminho com passos aflitos até vocês dois e interrompo aquilo que minha vista recusou a acreditar que era um beijo, mas realmente era.
Chamo seu nome e observo a garota se afastar levemente de você com a boca avermelhada.
“Juro pra você que posso explicar.” você diz com a respiração descompassada.
“Não adianta, querida.” a garota diz se levantando e passando por minhas costas até chegar a você novamente. “Você nunca será o suficiente. Não vê que eu sou melhor que você em tudo?” ela fala passando a mão por sua nuca. “Seu namoradinho não te ama. Teu garoto agora é meu.” ela dá as costas e rebola de um jeito esquisito até a porta, e te levando junto consigo.
Me sento arrasada na mesa enquanto a atendente pergunta se eu desejo algo.
“Um café.” digo sem pensar.
Você sempre pede isso pra ele, sua burra: Você não toma café.
“Ah, na verdade, um chocolate quente, por favor.”
E fecho os olhos com força encostando a cabeça à mesa.

E acordo assustada abrindo com pressa os olhos procurando por você. E te vejo me desejando feliz Natal, perguntando se quero ir abrir os presentes.
“Não gostaria mais de ser ruiva.” comento enquanto você me abraça me levando até a sala.
“Por quê?” você pergunta divertido.
“Longa história.”