13 maio 2012

Capítulo 124


Pior do que sofrer com a dor (consciente ou não) de matar alguém é o eterno purgatório em que se vive enquanto a alma da pessoa ainda te assombra.
Todos os "se"s, "mas"s, pedidos de perdão e desculpa. Sussurros, choros e lamentos que vêm no pacote junto com o peso total do corpo (daquele que já foi alguém amado).
Suportar a presença onipresente de alguém que você já não consegue encarar. A voz que insiste em lhe lembrar: "Ainda estou aqui. Você não me esqueceu.". O espaço de uma mala maior do que você esperava carregar. O desconforto de um sapato números maiores que o que você calça. O incômodo causado por uma alergia cutânea. A agonia da paranoia de enxergar algo que ninguém mais vê.
E num instante, deixar que a faca deslize lentamente por entre os seus dedos, chegando ao chão e causando um barulho agudo. Fechar os olhos enquanto respira fundo e dar meia volta, deixando que você (e talvez a pessoa) viva num passageiro inferno - ao menos você pode fazer o que quiser: já está no inferno mesmo.

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