29 outubro 2011

Capítulo 114 - And that's the lousy truth


"Ei..." ela sussurrou na linha, querendo ser ouvida, mas só seria se estivessem prestando atenção.
"Ei, oi, minha fofa. Como você tá?" ele respondeu, demonstrando atenção.
Ela não respondeu. Só se manteve em silêncio. Não era culpa sua se as palavras queriam ficar presas dentro de sua garganta, era?
Um segundo, um instante, um momento se passou.
"Pequena? Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Fala algo." disse, preocupado.
"Ele... Era tudo mentira." ela expulsou as palavras para fora tentando se fazer entender. "Pode falar o que quiser. Diz, diz "eu te avisei", mas só para você saber, eu já me torturei o bastante."
"Pequena... Me explica isso direito."
"Tinha outra garota. Sempre teve. Eu não era nada, sabe? Era um passa-tempo para quando ela não estava lá. Foi tudo mentira... Pode dizer que você estava certo em não gostar dele, diz que você me avisou sobre ele, vai. Me tortura." ela cuspia as palavras conforme cuspia tudo o que estava sentindo também.
"Só vou comentar uma coisa..." ele disse num tom calmo e ela suspirou entre dois soluços do outro lado da linha "Ele é um babaca, e eu já estou indo para aí."
"Foram duas coisas." ela resmungou.
"Chego em cinco minutos." 

22 outubro 2011

Capítulo 113


"Olha, eu queria poder dizer que eu aguento esse navio afundando sozinha, porque eu sou a capitã e a capitã sempre afunda com seu barco, aliás, eu já fiz esse barco sair de cada uma e foi tudo sozinha. Mas não importa. A questão é que: eu não aguento sozinha. Meu leme tá cedendo, tá escorregando da mão, a pressão da água tá forte demais, tem muita água no convés, o navio tá ficando pesado, não dá, não dá. 
Faz tempo que eu tô sem co-piloto, ele foi embora, preferiu um avião, disse que era mais fácil de comandar, que droga, não é? 
Essas últimas ondas bateram fortes demais, acho que danificou o casco.
Onde foi que eu meti a gente, navio? Onde foi que eu te giriei para a direção errada?
A gente não conhece essas águas e é tudo tão turbulento, sem ninguém para nos escoltar de volta. Droga, navio. Desculpa, desculpa por meter a gente nessa. Desculpa se eu não tô tendo força o suficiente para girar o leme. Eu não consigo mais.
Ei, ei, ainda tem alguém aí do outro lado do rádio? Ajuda. Socorro. Help. S.O.S."
Mas tudo que ela conseguia ouvir em retorno era estática.


19 outubro 2011

Capítulo 112 - 15;


Oi. Como você tá, menino? Tá tudo bem? Você já a superou? Espero que as coisas não estejam tão dificeis para você — sei que depois de um tempo tudo passa, você parecia estar levando mais tempo que o normal.
Que saudades de você, pequeno. Por que eu tive que ficar sem tempo? Por que eu não fui na sua página ver o que estava acontecendo? Por que eu perdi o contato com você, hein? Por quê?
Eu fui até aquela sua amiga perguntar de você. Ai, como eu sinto sua falta, menino. Acho que minha mensagem não chegou até ela. (Ei, desculpa a mudança súbita de assunto, de repente me deu uma epifania e achei que eu ainda pudesse ter algum requício de contato com você. Mas a resposta é não.)
Que droga, menino. Gostava tanto de falar com você, tudo parecia tão bom. Queria te roubar pra mim, sabia? Não me importava se seu coraçãozinho estava quebrado, se você estava em outro estado ou se você era mais novo que eu. Eu só queria tanto que você sarasse logo, menino.
Era tudo tão inocente, sem malícia. Era uma amizade tão cúmplice, tão pura.  Por que te perdi, menino? Por quê?
Sinto tanto sua falta. Será que você faz ideia?
Pesquisei seu nome na internet pra ver quantos resultados eu conseguiria. Tantos, menino, tantos — e nenhum deles me levava a você.
Foi uma amizade à primeira vista essa coisa nossa, não foi? Eu gostei de você só por gostar. Gostei de você sem foto, sem voz, sem qualquer empecilho. Gostei de você pela sua personalidade, garoto. Gostei das músicas que você gostava, gostei dos seus desenhos, gostei dos seus gostos e gostei da sua dor — porque cá entre nós, eu acho que sempre gostei de gente sofrida como nós. Me apaixonei pela sua personalidade, pelo seu eu e não pedi mais nada em troca.
E uma coisa dessa não acontece todo dia, não é? Ainda não entendo: Como foi que eu te deixei escapar, pequeno?
Ah, siba que eu só quero o bem pra você. Você merece, garoto. Merece tudo de bom da vida.
Se cuida, tá? É o que eu peço e pedia sempre que terminava uma mensagem pra você. Sabe que toda noite eu peço pra você ficar bem, pequeno? Ai, pequeno, ai.
Que dor ter que terminar essa carta aqui. Se cuida, tá bem? E junta os pedaços desse coraçãozinho porque você ainda irá amar várias garotas por aí.
Ai, pequenoi, desculpa se eu não conseguir dizer tchau, dói demais me despedir de você.
Se cuide, pequeno. Se cuide. E seja feliz — feliz por mim.


Fim do capítulo 112;

16 outubro 2011

Capítulo 111


O telefone toca. Uma, duas, três vezes. Ela estende a mão e pega o aparelho do criado mudo. parou de tocar. Foi só imaginação?
Ela alcança os óculos e espera os olhos se adaptarem. "Três mensagens não lidas" ela vê semicerrando os olhos.
"Bom dia, minha linda.", "Ei, já acordou, pequena?","Que coisa ruim essa cama sem você. Você ainda tá na cama?" ela lê e torce a boca num meio sorriso de quem acabou de acordar.
O telefone toca, duas vezes.
"Hm?" ela resmunga.
"Oi, meu amor... Te acordei?"
"Uhum."
"Desculpa, eu só tava pensando em você... Ei, sabe que horas são? 11:11, faz um pedido, minha linda."
"Hm, me deixa dormir."
"Você sabe que se você contar seu pedido, ele não se realiza? Bobona."
Ela fica em silêncio.
"Desculpa. Eu vou te deixar dormir, pequena. Tchau." ela ouve a culpa na voz dele.
"Eu amo você. Muito. Muito mesmo." ela fala com calma.
"Dorme bem. E sonha comigo." 
Ela ouve o barulho do outro lado da linha que indica que ele desligou. E joga o telefone ao lado da cama.
(...)
Ela abre os olhos desacostumada com a luz e sente alguma coisa incomodar seu rosto.
"Dormi de óculos?" ela murmura e procura o celular.
"12:21." ela constata e de repente se lembra de alguns flashes. "Foi só imaginação?"


Fim do capítulo 111;

12 outubro 2011

Capítulo 110


"Todo artista tem sua musa inspiradora. Quem é a sua?"
"Eu não posso contar."
"Ah, por que não?"
"Isso tiraria todo o mistério do meu trabalho."
"Por favor, eu prometo que não conto a ela."
"Eu não posso."
"Eu prometi não contar a ela. Por que eu não posso saber?"
"Eu não posso contar. E eu tenho que ir. Mas você pode ficar com meu último texto, foi escrito para ela."
Ele entregou o papel dobrado a ela.
"Vejo você depois." ele disse.
Ela o observou ir embora enquanto se perguntava como era o texto. E ficou sem palavras ao ver que no topo da página como título estava escrito seu nome.

Fim do capítulo 110;

09 outubro 2011

Capítulo 109


"Eu te amo mais." ele falou.
Não ama, não. Quem ama não enrola, não omite, não mente, não engana, não esconde, deixa tudo claro, é verdadeiro, pede desculpas e se sente culpado se faz algo errado.
"Não." nego porque sei que é a verdade.
"Você sabe que é verdade."
"Não é."
Não é verdade, pois quem quer arranja um jeito, quem não quer arranja uma desculpa.
"Amo, sim. E pra sempre vou te amar mais, mais que tudo." e fez aquela expressão de cãozinho-abandonado-me-leva-para-sua-casa-e-me-perdoa-se-eu-bagunçar-a-sua-vida-?
Por que ele não pode ser um canalha comum? Desses que eu dispenso sem o menor dó, pois eu sei que tem caras melhores que ele por aí.
Ele tinha que ser um canalha fofo, que me ama mais que tudo, que se preocupa em saber como foi meu dia. Esse canalha do qual eu não consigo ter raiva. Esse canalha que pensa que me engana quando eu sei das verdades, que me enrola achando que eu cai nessa.
Por que logo eu, hein? Logo eu que sempre prometi estar no controle da situação, não me deixar enrolar. Logo eu, logo eu.
"O que eu vou fazer com você?" penso em voz alta.
"Tudo." ele sorri daquele jeito me pedindo perdão por ser idiota e eu, mais idiota ainda, perdoo.

Fim do capítulo 109;