26 junho 2013

Mon chéri

Você cozinha pra mim, me leva pra passear, me ajuda no que for, me mima, me aconselha. Você faz de mim alguém melhor, você me dá bronca e logo em seguida tá pedindo desculpas por ser severo demais comigo.
Você divide sua cama comigo e como bônus eu ganho metade da sua vida. Você me leva pra conhecer seus amigos mesmo quando eu morro de medo e digo "E se eles não gostarem de mim?".
Você me assegura, você me conforta, você me ama. Você brinca, você me cura, você canta, você me ajuda.
Você me ensina, você me cobre, você me cobra, você me salva. Você liga, me telefona, me manda mensagem, você se importa.
Você me escuta, soluciona meus dilemas e entende meus problemas. Você me filma, você me assiste, você me nina.
Você me abraça, me segura, me atura. Você me serve, você me despe e se precisar, ainda me veste.
Você me encanta, me distrai e nunca me trai.

Você faz meu o seu mundo e eu consigo saber quando ainda mudo você diz que me ama.

01 maio 2013

Birds


"Bom, você sabe que eu nunca sei o que falar (logo eu, que tô sempre falando) e que eu me viro melhor escrevendo. Então taí.
Quero que você saiba que eu tô aqui pro que der e vier (Eu sou sua melhor amiga, não sou?). Eu sou tão interessada na sua vida e no que acontece nela (sério!). Eu sempre vou querer saber e ver (d)as coisas que você faz.
Eu sei que eu sou durona e chata e difícil de lidar, mas só olhar pra você me deixa tão contente.
Só olhar pra você e saber que você existe, que você é real, é a coisa mais gratificante que existe.
É tanta sorte no meio de tanta gente chata, ignorante, desinteressante, ridícula, eu ter você. 
Eu poderia gostar de um cara que me trata mal, de um cara que tem namorada, de um cara que tem namorado, de um cara que acha que as coisas que eu faço são besteira, de um cara que mora do outro lado do planeta e eu nunca vejo, de algum cara que nem sabe que eu existo, mas eu gosto de você e você gosta de mim. Quais as chances disso acontecer com alguém azarada como eu?
Você poderia não gostar de mim, me achar a garota mais ridícula da face da terra, gostar de alguém que não tá nem aí pra você, estar com uma loira gostosa ou não estar com ninguém. Mas você gosta de mim. Eu não sei dizer o quanto isso significa pra mim. Você não faz ideia da pessoa incrível que eu acho que você é.
Você é (e provavelmente vai ser sempre) o único cara que eu acho que fica bem de barba. Sério, eu olho pros outros caras e penso "Que merda é essa na sua cara?", mas eu olho pra você e acho adorável.
Eu fico contente quando você fica contente, eu fico triste quando você fica triste, então, por favor, fique rico. Hahahaha, brincadeirinha.
Eu fico tão contente que um dia nós olhamos um pro outro e pensamos "uau". Fico mais contente ainda por ter sido recíproco e por ter sido ao mesmo tempo.
(...)"

22 março 2013

There are a lot of things we don't want to know about the people we love.


Sento nesse cômodo que agora me parece estranho e não consigo parar de encarar aquela caixa no canto do cômodo perto da porta. Mas é só papelão. Só papelão... não é?
Não!
É o dia em que fomos andar de patins no parque e ralei meu joelho. (E eu só caí porque fiquei com vergonha de dizer que não sabia andar). É a primeira vez em que você cozinhou pra mim e eu menti que a comida estava boa (sendo que você queimou metade de tudo). É a primeira vez em que dormi na sua casa e fiquei com vergonha de que você me visse de pijama. É a primeira vez em que você dormiu aqui e você usou minha escova de dentes. É o peixinho dourado que comprei pra você e que morreu por você não alimentá-lo. É o jeito que você tinha de me convencer. É toda e qualquer conversação até o amanhecer. É a primeira vez em que eu te chamei de "amor" e você nem percebeu. É a reposta vaga que você me dava quando eu perguntava da sua rotina. É todo presente com a cor/tamanho/sabor errado. É toda vez em que você nem ouviu o que eu falei. É toda vez em que eu indiquei uma música e você não ouviu. É toda vez que meu telefone não tocou quando você disse que ligaria.
A campainha toca e eu me levanto com pesar. Abro a porta num suspiro fundo e te encaro. A última vez em que pretendo te ver.

Existem várias coisas que não queremos saber sobre as pessoas que amamos. E a principal é que elas não nos amam.

07 março 2013

Ametista


Acordo sentindo a cabeça pesada. Tento levantar da cama de uma vez só, mas parece que uma bigorna me puxa para baixo. Respiro fundo e faço força para sair da cama. Consigo sair do quarto e, oh, droga, toda essa claridade me incomoda. Fecho as cortinas com pressa e quando o cômodo já está escuro o suficiente, olho ao meu redor.
Não sei dizer direito que horas são pelo relógio da sala e vou para a cozinha. Minha cabeça dói assim que minha pele descalça toca o piso. Droga. Espirro um par de vezes seguidas e me xingo mentalmente. Droga, de novo.
Abro o armário, pego a primeira caneca que encontro. Abro a geladeira, espirro mais um par de vezes e pego o leite. A caneca já devidamente preenchida vai para o microondas. Digito um tempo qualquer pré-programado e me encosto no balcão.
Fecho os olhos por um momento e lembro de quando você me fazia café da manhã: eu ficava sentada no balcão esperando e quando eu me distraía você me surpreendia com um beijo. Droga, droga, droga! Abro os olhos depressa me perguntando se o microondas não está demorando para apitar.
Aperto o botão para cancelar e seguro a caneca numa mão enquanto procuro por canela no armário. Jogo um pouco na caneca e vou para a sala.
Sento no sofá e expiro, como se aquilo fosse um baita d'um alívio. Aquele cômodo escuro parece muito mais aconchegante agora.
Tomo o primeiro gole da bebida e estranho o gosto doce. Quanto tempo eu não colocava canela no leite? Ah.
Canela, canela, canela.
Eu estou mesmo usando um remédio que você me indicou?
Quanto tempo ainda vai durar essa ressaca de você?

03 março 2013

Amnesia


Dizem que uma vez fora do ensino médio você começa a esquecer das coisas. Mas não se esquece de uma vez, isso acontece gradualmente: você esquece as matérias, os horários das suas aulas, os nomes dos professores que você não gostava tanto assim e as pessoas que não tinham um papel importante na sua vida.
Então vão-se os passeios, as visitas técnicas, as excursões, as semanas de prova e o número do seu armário.
Vai-se o seu número da chamada, o lugar onde você se sentava no lanche todo dia, a marca do seu material, a cor da sua caneta preferida, as palestras entediantes que te proporcionavam aulas vagas.
Você tenta manter os momentos das aulas que você cabulou, os beijos que você deu atrás do anfiteatro, o cara com quem você ficou de mãos dadas na arquibancada e aquele gol dedicado a você.
Você tenta se segurar também aos nomes daqueles que você acreditava que eram seus amigos, os nomes dos professores que te deixavam cabular aula, os que te davam pontos a mais pra passar e os que facilitavam as respostas da prova.
Você faz força pra lembrar o nome do funcionário que abria o portão para você todo dia, o nome da moça na secretaria que te atendia bem, o nome da fiscal do corredor que te dava bronca por te ver de mãos dadas com alguém, o nome das pessoas para quem você falavam "bom dia" toda manhã e os momentos decisivos de todo esse tempo, mas, eventualmente, tudo se vai.
Você chega ao ponto de ter que pedir ajuda para um conhecido para se lembrar do seu primeiro dia daqueles anos terríveis, o nome da primeira pessoa com quem você falou e quem foi sua primeira paixão platônica.
Mesmo com a ajuda de um conhecido você não consegue lembrar o nome de todas as pessoas que estudaram com você, todos os momentos importantes e todas as situações embaraçosas que aconteceram.
A maioria parte daqueles (novecentos e tantos) dias se torna um borrão. Nada além de um grande e escuro borrão. Memórias que você não sabe se realmente aconteceram ou se você as imaginou.
Dias que pareceram o inferno, mas agora aparentam mais ser parte do purgatório.

26 fevereiro 2013

D is for...

Abro os olhos depressa e com força. Oh, droga, acabei de ter mais um daqueles sonhos horríveis. E com a mesma intensidade que abri meus olhos, os fecho. Os sinto arder e é como se eles fossem explodir: tem tanta pressão neles.
Me cubro depressa tentando me sentir segura, mas os flashes do sonho não me deixam em paz. Abro e fecho os olhos na expectativa de que essa sensação vá embora. Respiro fundo tentando apagar esse sonho da minha memória, mas quanto mais eu tento, mais ela se impregna no meu subconsciente.
Abro e fecho os olhos novamente constatando que a pressão parece ter passado e eu já me acostumei com a ideia de um sonho ruim.
Retiro um pouco do edredom de cima de mim me sentindo um pouco mais confortável. Foi só um sonho ruim que ficou no passado. Me acostumo com a ideia desse sonho ruim. Quantos sonhos ruins eu já tive? Quantos eu ainda terei?
Me sento na cama, respiro fundo e coloco meus pés no chão gelado. É incômodo por um momento, mas me acostumo com a sensação. Então meu celular toca. Só três pessoas possuem esse número e só uma delas poderia estar me ligando naquele momento. Todo o peso volta - junto com a pressão e o ardor -, só em que em meus ombros agora. Minha respiração falha e eu sinto o peso da responsabilidade em mim.
Num momento rápido, me cubro e me encolho debaixo do edredom - tudo isso numa tentativa de me sentir menos insegura (tentativa completamente frustrada, devo adicionar).
Eu tremo, minha respiração falha e eu me sinto completamente com medo. Eu estava indo bem, não estava? Eu estava conseguindo seguir em frente, eu estava. Eu sei que estava!
Mas de repente todas aquelas sensações estão de volta. Eu não quero, eu-não-quero. Eu disse que não queria assumir esse compromisso, que eu não quero responsabilidades, preocupações, medos e cobranças.
Você me ouviu? Você pode me ouvir? Você - ao menos - consegue me ouvir?

24 fevereiro 2013

The shallows


"Estou completamente sozinha." eu sussurro.
Porém não há eco em resposta. Nem um simples eco. Logo sei que não me resta mais nada.
"O que me mantém aqui?" penso enquanto fito o horizonte azul e distante.
Uma brisa movimenta meus cabelos em direção ao abismo. Abaixo os olhos somente o suficiente para enxergar onde estou pisando e chuto uma pedrinha em direção ao mar.
Era só uma pedra, será que faria alguma diferença? Provavelmente não. (Assim como eu não farei.)
Meu pesamento voa até aquele 4x4 meio mobiliado que eu chamava de meu apartamento. O proprietário saiu no lucro: deixei o mês pago.
Ouço um trovão e logo as gotas de chuva embaçam minhas lentes. Devagar tiro aquela armação que sempre detestei e a largo no chão. Talvez o baque do impacto signifique que ela quebrou ao meio. Vai ser assim comigo também?
Fito novamente o horizonte azul e distante. Semicerro um pouco os olhos para vê-lo melhor agora. Será a morte embaçada também? Afinal, a morte pode ser vista ou somente sentida?
Devagar, abro e fecho os olhos, decorando essa sensação. Abro bem os olhos e pulo. Pulo sem medo de cair, sem tentar me apoiar no que ficou para trás. Pulo sabendo que ninguém me segurará.
O vento é gelado e tenho a sensação de estar indo muito rápido, porém não me importo: assim que atinjo a água tudo parece estar em câmera lenta.
Com os olhos bem abertos, imagino que tenho uma expressão serena (ou ingênua) de quem quer captar o máximo do que está acontecendo.
Não prendo a respiração ou luto contra a água em meu corpo. Só me permito ser invadida. E pela primeira vez isso é completamente calmo.
Não existe pressão, não existem barulhos ou sons ou perturbações. Só sinto tudo ficar mais e mais leve enquanto enxergo tudo num tom bonito de azul esverdeado ao meu redor.
Eu estou afundando, porém  sinto que estou flutuando.
É tudo tão bonito e libertador.