24 fevereiro 2013

The shallows


"Estou completamente sozinha." eu sussurro.
Porém não há eco em resposta. Nem um simples eco. Logo sei que não me resta mais nada.
"O que me mantém aqui?" penso enquanto fito o horizonte azul e distante.
Uma brisa movimenta meus cabelos em direção ao abismo. Abaixo os olhos somente o suficiente para enxergar onde estou pisando e chuto uma pedrinha em direção ao mar.
Era só uma pedra, será que faria alguma diferença? Provavelmente não. (Assim como eu não farei.)
Meu pesamento voa até aquele 4x4 meio mobiliado que eu chamava de meu apartamento. O proprietário saiu no lucro: deixei o mês pago.
Ouço um trovão e logo as gotas de chuva embaçam minhas lentes. Devagar tiro aquela armação que sempre detestei e a largo no chão. Talvez o baque do impacto signifique que ela quebrou ao meio. Vai ser assim comigo também?
Fito novamente o horizonte azul e distante. Semicerro um pouco os olhos para vê-lo melhor agora. Será a morte embaçada também? Afinal, a morte pode ser vista ou somente sentida?
Devagar, abro e fecho os olhos, decorando essa sensação. Abro bem os olhos e pulo. Pulo sem medo de cair, sem tentar me apoiar no que ficou para trás. Pulo sabendo que ninguém me segurará.
O vento é gelado e tenho a sensação de estar indo muito rápido, porém não me importo: assim que atinjo a água tudo parece estar em câmera lenta.
Com os olhos bem abertos, imagino que tenho uma expressão serena (ou ingênua) de quem quer captar o máximo do que está acontecendo.
Não prendo a respiração ou luto contra a água em meu corpo. Só me permito ser invadida. E pela primeira vez isso é completamente calmo.
Não existe pressão, não existem barulhos ou sons ou perturbações. Só sinto tudo ficar mais e mais leve enquanto enxergo tudo num tom bonito de azul esverdeado ao meu redor.
Eu estou afundando, porém  sinto que estou flutuando.
É tudo tão bonito e libertador.

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