24 abril 2012
Capítulo 122 - Isto não é uma carta de amor
"Oi.
Nós mal nos conhecemos - na verdade, nós nunca nos falamos -, mas eu queria dizer que... não! Espera, eu não gosto de você. Gostar envolve um tipo diferente de relacionamento do que o nosso (quis dizer: o relacionamento imaginário, utópico e platônico que eu tenho.). É que eu acho você fofo.
Não sei... na verdade, sei sim: vi alguma coisa em você - você é diferente (diferente bom, eu lhe asseguro). Alguma coisa em você me chamou a atenção (coisa rara de se acontecer).
Gosto do jeito como seus óculos te dão um ar alternativo, eles te destacam. Acho que em algum ponto você deve se parecer um pouquinho comigo. Me parece que você não sorri muito e tem uma personalidade meio antipática, é isso? Bom, se for, já é algo em comum. E pelo curso que você faz, nós devemos ter interesses alguma coisa parecidos.
Desculpa não lhe elogiar dizendo que é lindo, bonito ou sei lá, mas é que esses conceitos remetem a outro tipo de avaliação e um conhecimento diferente - do que eu tenho atualmente - de você, porém te acho um fofo, já comentei. Quer dizer que você me aparenta alguém bom, uma alma boa, alguma coisa divertida, eu arriscaria dizer.
Sempre quise te dizer um "oi", será que você sabia disso? Mas eu sempre tive vergonha demais. Acho que você já olhou para mim um par de vezes no corredor (mas provavelmente foi por meus amigos fazerem escândalo ou porque eu estava lhe fitando).
Bem, é isso. Você deve ser um cara legal e eu queria te dizer um "oi". Como você tá? Tudo bem?
Tchau e se cuida, viu? Espero poder/conseguir falar contigo em breve.
Atenciosamente, xx."
17 abril 2012
Capítulo 121 - Alice, where are you running to?
Vejo as pesssoas (quase que) correrem por mim enquanto com meus passos apressados (e apertados) me dou conta de que sou uma delas.
Para onde todo mundo está sempre correndo?
Um rapaz com uma coleira vermelha ao pescoço (gravata, eu quis dizer) não espera e passa ao meu lado correndo na faixa de pedestres enquanto ela está vermelha ainda (da cor da sua coleira.). Quase foi pego pelo carro.
A moça ao meu lado balança o pé e mexe nos cabelos impaciente. (De tanto passar por ali, sei que o intervalo do farol é de quinze segundos e me preocupo por saber que a moça não pode esperar 1/4 de segundo). O sinal abre e a maior parte das pessoas sai correndo. (Pois ao contrário dos touros, o que as faz correr é o verde).
Caminho em direção à plataforma me certificando de que é essa a plataforma correta. Olho para os lados por motivo algum enquanto as pessoas ao meu redor parecem se sentir incomodadas com isso.
O trem chega e quem ainda está dentro do vagão não tem espaço para sair devido à multidão querendo entrar. Espero todos entrarem, enquanto vejo um lugar vazio para "descansar". O "rapaz" ao meu lado - no banco preferencial - se levanta para uma moça sentar.
"Não." eu protesto em tom normal. "Pode sentar aqui." levanto e percorro as próximas nove estações em pé.
O garotinho ao meu lado me olha incomodado enquanto sua mãe reclama para ele se sentar.
Desço do trem, com certa dificuldade enquanto tento manter fôlego subindo as escadas com pressa por causa do horário.
Abro minha bolsa com cuidado enquanto pego meu celular e digito uma mensagem. Respiro fundo enquanto tento me acalmar de uma viagem turbulenta. Digito outra mensagem e paro ao lado do garoto enquanto digo "Desculpa, eu tô atrasada."
Atrasada para que mesmo?
Prendo minharespiração enquanto ele não me responde. E ele não o faz. Só sorri para mim e passa o braço ao redor da minha cintura.
"Tudo bem." ele tira meu ar (ou o que restava dele) só com o olhar.
"Uhum." é tudo o que eu consigo murmurar, muito embora eu saiba que não está tudo bem.
Mais uma vez, respiro fundo e seguro a respiração tentando fazer aquele momento durar para sempre enquanto ele me sorri de lado.
Quando foi que nós perdemos o tempo até mesmo para respirar?
15 abril 2012
Capítulo 120 - Pingos nos is
Pesadelos ruins. Noites sem dormir. Você com outra garota e eu aqui. A lembrança de você que não quer sair. Mil planos mirabolantes para esquecer de ti. O jeito que você me cantava aquela música de dormir. Todas as vezes que com você eu sorri. Tijolos e tijolos para você não me iludir. Leite com canela para a dor sumir. Sussurros ao ver o sol cair. Sonetos para e não me esquecer de que eu não morri. Tulipas que me cheiravam a jasmim. Aquela sua amiga chama Yasmin. Suas palavras de quem nunca iria fugir. Meus trabalhos pintados a nanquim. Seu sorriso de criança para mim. Meu desespero, esquecendo que você não era um passarinho na gaiola que iria fugir. Argamassa e concreto para o muro não ruir. Sua camisa que eu mais gostava era de uma loja chamada Miss. Seu sorvete favorito era de anis. Sua tia favorita que me chamava de Cris. Tanta confiança, para no final, você me trair.