26 fevereiro 2013

D is for...

Abro os olhos depressa e com força. Oh, droga, acabei de ter mais um daqueles sonhos horríveis. E com a mesma intensidade que abri meus olhos, os fecho. Os sinto arder e é como se eles fossem explodir: tem tanta pressão neles.
Me cubro depressa tentando me sentir segura, mas os flashes do sonho não me deixam em paz. Abro e fecho os olhos na expectativa de que essa sensação vá embora. Respiro fundo tentando apagar esse sonho da minha memória, mas quanto mais eu tento, mais ela se impregna no meu subconsciente.
Abro e fecho os olhos novamente constatando que a pressão parece ter passado e eu já me acostumei com a ideia de um sonho ruim.
Retiro um pouco do edredom de cima de mim me sentindo um pouco mais confortável. Foi só um sonho ruim que ficou no passado. Me acostumo com a ideia desse sonho ruim. Quantos sonhos ruins eu já tive? Quantos eu ainda terei?
Me sento na cama, respiro fundo e coloco meus pés no chão gelado. É incômodo por um momento, mas me acostumo com a sensação. Então meu celular toca. Só três pessoas possuem esse número e só uma delas poderia estar me ligando naquele momento. Todo o peso volta - junto com a pressão e o ardor -, só em que em meus ombros agora. Minha respiração falha e eu sinto o peso da responsabilidade em mim.
Num momento rápido, me cubro e me encolho debaixo do edredom - tudo isso numa tentativa de me sentir menos insegura (tentativa completamente frustrada, devo adicionar).
Eu tremo, minha respiração falha e eu me sinto completamente com medo. Eu estava indo bem, não estava? Eu estava conseguindo seguir em frente, eu estava. Eu sei que estava!
Mas de repente todas aquelas sensações estão de volta. Eu não quero, eu-não-quero. Eu disse que não queria assumir esse compromisso, que eu não quero responsabilidades, preocupações, medos e cobranças.
Você me ouviu? Você pode me ouvir? Você - ao menos - consegue me ouvir?

24 fevereiro 2013

The shallows


"Estou completamente sozinha." eu sussurro.
Porém não há eco em resposta. Nem um simples eco. Logo sei que não me resta mais nada.
"O que me mantém aqui?" penso enquanto fito o horizonte azul e distante.
Uma brisa movimenta meus cabelos em direção ao abismo. Abaixo os olhos somente o suficiente para enxergar onde estou pisando e chuto uma pedrinha em direção ao mar.
Era só uma pedra, será que faria alguma diferença? Provavelmente não. (Assim como eu não farei.)
Meu pesamento voa até aquele 4x4 meio mobiliado que eu chamava de meu apartamento. O proprietário saiu no lucro: deixei o mês pago.
Ouço um trovão e logo as gotas de chuva embaçam minhas lentes. Devagar tiro aquela armação que sempre detestei e a largo no chão. Talvez o baque do impacto signifique que ela quebrou ao meio. Vai ser assim comigo também?
Fito novamente o horizonte azul e distante. Semicerro um pouco os olhos para vê-lo melhor agora. Será a morte embaçada também? Afinal, a morte pode ser vista ou somente sentida?
Devagar, abro e fecho os olhos, decorando essa sensação. Abro bem os olhos e pulo. Pulo sem medo de cair, sem tentar me apoiar no que ficou para trás. Pulo sabendo que ninguém me segurará.
O vento é gelado e tenho a sensação de estar indo muito rápido, porém não me importo: assim que atinjo a água tudo parece estar em câmera lenta.
Com os olhos bem abertos, imagino que tenho uma expressão serena (ou ingênua) de quem quer captar o máximo do que está acontecendo.
Não prendo a respiração ou luto contra a água em meu corpo. Só me permito ser invadida. E pela primeira vez isso é completamente calmo.
Não existe pressão, não existem barulhos ou sons ou perturbações. Só sinto tudo ficar mais e mais leve enquanto enxergo tudo num tom bonito de azul esverdeado ao meu redor.
Eu estou afundando, porém  sinto que estou flutuando.
É tudo tão bonito e libertador.